Do pouco (ou muito) que cada um doa, a Associação Metropolitana de Erradicação da Mendicância, o Abrigo Amém, sobrevive há 40 anos. São 40 idosos, homens e mulheres entre 60 e 102 anos, alguns em plena saúde física e mental, outros nem tanto.
Todos que encontram no isolamento do instituto encravado na mata um sentido de acolhimento do qual talvez não compartilhassem nem mesmo no seio familiar.
Caso da dona Helena Valente, 64, ex-agricultora: “Havia uma rotina de agressões entre mim e a minha filha. Da última vez que nos vimos, ela resolveu me ameaçar a faca. Decidi vir para a Amém”, lembra ela, que é residente há dois anos e é conhecida como a artesã do Lar, com suas caixinhas e jogos americanos feitos com canudinhos e tricô.
“Aqui, sinto-me mais bem tratada do que em casa. E olha que tenho cinco filhos!”
Dona Helena e seus jogos americanos |
A velhice, junto com a infância, é das etapas da vida que mais demandam cuidados e paciência. Só que, ao contrário da criança, uma fase de graça e aprendizado, tratar de doenças e limitações cada vez maiores com o avanço da idade não são exatamente atrativos mesmo para os familiares – daí a sensação de incômodo, tanto para o idoso, quanto para a família.
Por isso é dos velhinhos também a decisão voluntária de ir para um espaço em que se sinta entre os seus. “Aqui bato papo, sinto-me bem tratado, faço as minhas poesias e desenhos...”, diz Paulo Gonçalves, 82 anos, há seis no Amém, autointitulado “eterno estudante”, por nunca ter trabalhado.
Quarenta idosos convivem no abrigo |
Paulo Gonçalves, 82 anos, entre desenhos e poesias |
“Vim de um histórico familiar complicado. Morava com um sobrinho alcoólatra, com quem brigava de vez em quando. Depois da última briga, decidi vir morar aqui. Nunca mais voltei”, diz, sem nem um semblante de arrependimento (o sorriso da foto também é uma constante). O Abrigo da Amém conta com serviços de enfermaria, psicologia, fisioterapia, artesanato, um bom refeitório, recreação e um espaço em que se pode caminhar por um generoso quintal que dá para a floresta, de onde não raro escapam animais como macacos, capivaras e preguiças.
Da limpeza impecável à organização dos cômodos, passando pela equipe de cuidadores, cozinheiros e faxineiros, tudo reflete respeito e, sobretudo, uma boa condução administrativa, ausente em muitas instituições geriátricas Brasil afora. “Fico emocionado em conhecer pessoas com tanta experiência, mas que, por alguma razão, não podem mais estar com suas famílias. A Amém dá a elas a qualidade de vida de que necessitam, além de lhes proporcionar um clima de companheirismo e solidariedade, com o qual ficamos gratos em contribuir”, diz o vice-diretor da Salema, João Neto.
Serviço:
Lar da Amém
Km 11 da BR-230 (Cabedelo)
Loteamento Jardim América
3245-2761
Para doações:
Banco do Brasil (Ag. 011-6)
Conta-corrente: 224 468-3
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